quarta-feira, 24 de julho de 2013

Como meditar - Richard Baxter

Tendo lhe falado sobre as coisas que deveriam ser o assunto da sua meditação, eu lhe falarei a seguir, brevemente, de que maneira você deve fazer isso. Eu não me demorarei em prescrever-lhe nenhum longo ou exato método de meditação, tanto porque isto não estaria de acordo com a minha intenção de brevidade, como porque as pessoas com as quais eu agora estou tratando não seriam capazes de observar tais regras. Se alguém desejar este tipo de ajuda pode transferir os conselhos que são oferecidos sobre outro assunto no meu livro sobre o Descanso, para o assunto que trataremos agora.
1. Não espere que tais pensamentos venham por si mesmos à sua mente, mas disponha-se propositadamente a considerar estes assuntos. Tome algum tempo para chamar sua alma para considerar o seu presente estado e sua preparação para a eternidade.
Se um ímpio, Sêneca, podia obrigar-se cada noite a prestar contas a si mesmo pelo mal cometido, e pelo bem a que se omitiu no dia findo, como ele declara que fazia cotidianamente, por que, mesmo um homem não convertido, que dispõe dos incentivos que agora encontra em nosso meio, não pode meditar sobre o estado da sua alma? Mas eu sei que um coração carnal é excessivamente avesso a considerações sérias, e detesta ser incomodado com tais pensamentos. Além disso, o diabo fará o que puder para impedi-lo, pessoalmente ou por intermédio de outros. Mas, se pelo menos os homens fizessem o que está ao seu alcance, a situação poderia ser bem melhor do que é. Está você disposto a, pelo menos aqui e ali, se retirar deliberadamente das demais companhias para um lugar isolado, e ali colocar o Senhor diante dos seus olhos, e convocar a sua própria alma a uma estrita prestação de contas sobre os assuntos que eu acabo de mencionar, e dedicar-se a exercitar a sua razão sobre estes assuntos? Está você disposto, quando for à igreja para ouvir, a obrigar-se propositadamente a este dever de meditação como algo realmente necessário?
2. Ao meditar sobre estas coisas, esforce-se para despertar sua alma, e para ser muito sério em todos os seus pensamentos.
Não medite sobre estes assuntos da salvação do mesmo modo que o faria ao meditar sobre um assunto ordinariamente trivial, o qual você não considera ou dá importância; mas lembre-se de que a sua vida depende disso, e até mesmo a sua vida eterna. Assim, evoque os seus mais sinceros pensamentos, e desperte todos os poderes da sua alma, e não permita que eles fujam, mas ordene-os à ação; então, coloque os diversos pontos que eu mencionei diante de você, e, quando pensar sobre eles, esforce-se para ser afetado por eles em algum grau, conforme sua suma importância. Assim como Moisés disse a Israel ‘Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem em cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não é para vós outros cousa vã, antes é a vossa vida' (Dt 32:46,47). E assim como Cristo disse, ‘Fixai nos vossos ouvidos as seguintes palavras... ' (Lc. 9:44), assim eu lhe digo: deixe que estes assuntos sobre os quais você pensar penetrem no seu coração e sejam profundamente enraizados, a fim de que vivifiquem os seus sentimentos.
E se o seu coração escapulir desta obra, e outros pensamentos rastejarem para dentro da sua mente, e você se enfastiar dessas considerações antes que elas realizem sua obra em você, atente para que não se entregue à preguiça ou má vontade, mas lembre-se que esta é uma obra que precisa ser realizada, e assim mantenha seus pensamentos nestas coisas até que o seu coração seja comovido e aquecido dentro de você.
E, se apesar de tudo, você não conseguir despertar seus pensamentos à seriedade e sensibilidade, coloque para si mesmo duas ou três destas despertadoras questões:
(1) O que aconteceria com o meu corpo, meu estado, ou nome, se eu não os considerasse diligentemente? Se alguém apenas me prejudicar, quão facilmente posso meditar nisso, e quão prontamente eu o sinto; e quão dificilmente eu esqueço! Se o meu bom nome for desonrado, e eu for desgraçado, eu posso pensar nisso noite e dia. Se eu perder uma propriedade, ou tiver algum sofrimento no mundo e vier a experimentar a decadência, eu posso pensar a respeito com grande sensibilidade. Se eu perder um filho ou um amigo, eu poderei tanto sentir como pensar sobre isso. Se a minha saúde declinar, e a minha vida estiver em perigo, eu estarei bem disposto a pensar seriamente. Não deveria eu pensar com igual seriedade sobre os assuntos concernentes à vida eterna? Não deveria pensar eu sóbria e diligentemente nestas coisas, quando o corpo e a alma estão em jogo, e quando o assunto diz respeito ao meu gozo ou tormento eterno?
(2) O que aconteceria se eu apenas ouvisse o próprio Filho de Deus me convocando a arrepender-me e a ser convertido , concluindo a Sua exortação com a séria expressão, ‘ Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça' ? Isto não me levaria a sérias considerações sobre o meu estado? Por que, então, que isto que Ele fez quando estava no mundo, e que continua a ser feito pelos seus embaixadores, não deveria levar-me à séria consideração?
(3) O que aconteceria se eu soubesse que a morte está às minhas costas e pronta para me arrastar , e que eu estaria no outro mundo daqui a menos de uma semana? Eu certamente começaria a considerar estas coisas com empenho. Por que, então, eu não faço isto agora, quando sei que não posso controlar uma hora sequer do curso da minha vida, e que é certo que dentro de pouco tempo esta hora virá?
(4) O que aconteceria se os meus olhos apenas fossem abertos para ver aquilo que eu digo crer, e que é certamente verdadeiro? Sim, se me fosse dado um vislumbre da majestade do Senhor, e eu pudesse ver os santos em alegria e glória, e ver as almas perdidas em miséria, e se ouvisse suas lamentações, não induziria isto o meu coração à meditação? Oh, com que diligência eu não pensaria então nestas coisas! Por que então eu não faço isto agora, visto que estas coisas são tão certas como se eu as estivesse vendo, e visto que muito em breve as verei?
Muitas outras questões despertadoras como estas estão à disposição, mas eu apenas toquei brevemente nestas coisas que são as mais comuns e óbvias, e que mesmo os mais ignorantes destas realidades estarão habilitados a delas fazer uso. Com tais pensamentos você pode dar partida ao seu coração negligente, sacudi-lo da sua insensibilidade, e despertar seus pensamentos à ação.



Fonte: Extraído de Medita Estas Coisas . Editora Clássicos Evangélicos, Ananindeua-PA:1990. Traduzido por Paulo Anglada do Original inglês Directions and Persuasions to a Sound Conversion (Directions One to three) Extraído de Monergismo.

sexta-feira, 8 de março de 2013

 A Centralidade da Palavra

A Bíblia ocupa o centro do culto, pois é através dela que Deus nos fala. Calvino afirmou: "... a função peculiar do Espírito Santo consiste em gravar a Lei de Deus em nossos corações”.
[1]. A Igreja é a "escola de Deus"
[2]. O Espírito é o "Mestre"
[3] (o “Mestre interior”)
[4]. Para progredir nessa escola, “... devemos antes renunciar nosso próprio
entendimento e nossa própria vontade”.
[5]. A pregação não deve ser rejeitada (lTs 5:19-21); deve ser entendida como a Palavra de Deus para nós; recusá-la é o mesmo que rejeitar o Espírito (cf. lTs 4:8). Como há falsos pregadores e falsos mestres, é necessário "provar" o que está sendo proclamado para verse o seu conteúdo se coaduna com a Palavra de Deus (At 17: 11-12/ I Jo. 4: 1-6). No entanto, os homens querem ouvir mais o reflexo de seus desejos e pensamentos, a homologação de suas práticas. Assim, a palavra, que deveria ser profética, tende com frequência a se tornar apenas apetecível ao "público-alvo", aos seus valores e devaneios, ou, então, nós, pregadores, somos tentados a usar a "eloquência" para compartilhar
generalidades da semana, sempre, é claro, com uma alusão bíblica aqui ou ali, para justificar a "pregação”.
[6]. O fato é que uma geração incrédula é sempre crítica para com a palavra profética. Marvin Vincent estava certo ao declarar: "A demanda gera o suprimento. Os ouvintes convidam e moldam seus pregadores. Se as pessoas desejam um bezerro para adorar, o ministro que fabrica bezerros logo é encontrado"
[7]. É preciso atenção redobrada para não cair nessa armadilha, uma vez que não é difícil confundir os efeitos de uma mensagem com o conteúdo do que anunciamos: a pregação deve ser avaliada pelo seu conteúdo, não pelos resultados. Esse assunto está ligado à vertente relacionada ao crescimento de Igreja. Iain Murray está correto ao afirmar: o crescimento espiritual na graça de Cristo vem em primeiro lugar. Onde esse crescimento é menosprezado em troca da busca de resultados, pode haver sucesso, mas será de pouca duração e, no final, diminuirá a eficácia genuína da Igreja. A dependência de número de membros ou a preocupação com números frequentemente tem se confirmado como uma armadilha para a Igreja.
[8] A confusão entre conteúdo e resultado é fácil de ser feita porque, como acentua John MacArthur Jr.: "O pregador que traz a mensagem que mais necessitam ouvir é aquele que eles menos gostam de ouvir".
[9] Portanto, a popularidade pode, em muitos casos, ser um atestado da infidelidade do pregador na transmissão da voz profética. Lembremo-nos: "Toda a tarefa do ministro fiel gira em torno da Palavra de Deus - guardá-la, estudá-la e proclamá-la".
[10] E: "Ninguém pode pregar com poder sobrenatural, se não pregar a Palavra de Deus".
[11] Quanto mais confiarmos no poder de Deus operante através da Palavra, menos estaremos dispostos a confiar em nossa suposta capacidade. A Palavra que pregamos jamais será ineficaz no seu propósito.
[12] O pregador não "compartilha" opiniões nem dá "opiniões" sobre o texto bíblico, nem faz paráfrase irreverente do texto. O objetivo é expressar o que Deus disse sob a iluminação do Espírito. Pregar é explicar e aplicar a Palavra aos ouvintes. O aval de Deus não é sobre nossas teorias e escolhas, nem sobre a "graça" de piadas, mas sobre sua Palavra. Portanto, o pregador prega o texto, de onde provém a verdade de Deus para o seu povo. "Quando nos propomos a expor um texto, precisamos declarar exatamente o que o texto afirma".
[13] Quando Cristo retomar, certamente ele não se interessará por nossa escola homilética ou se fomos "progressistas" ou "conservadores", mas sim se fomos fiéis à Palavra em nossa vida e pregação. Devemos estar sinceramente atentos ao que o Espírito diz à Igreja através da Palavra. Isto é válido para quem ouve e para quem prega. Outra verdade que precisa ser ressaltada é que apesar de muitos de nós não sermos "grandes" pregadores ou existirem pregadores infiéis, Deus fala. Por isso, há a responsabilidade de ambos os lados: quem prega, pregue a Palavra; quem ouve, ouça com discernimento a Palavra do Espírito de Deus. A pregação foi o meio deliberadamente escolhido por Deus para transformar pessoas e edificar seu povo, preservando a sã doutrina através da Igreja, que é o baluarte da verdade.

Autor. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa.

Fonte: Fundamentos da teologia reformada, pg. 139-142, Editora Mundo Cristão. Compre este maravilhoso livro em www.mundocristao.com. br