domingo, 6 de maio de 2012

Os Cinco Solas da Reforma

Os Cinco Solas da Reforma
Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria

Por

Declaração de Cambridge

SOLA SCRIPTURA: A Erosão da Autoridade

Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função oficial. Na prática, a igreja é guiada, por vezes demais, pela cultura. Técnicas terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento muitas vezes tem mais voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua proeminência, a igreja foi cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.

Em lugar de adaptar a fé cristã para satisfazer as necessidades sentidas dos consumidores, devemos proclamar a Lei como medida única da justiça verdadeira, e o evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é indispensável para a compreensão, o desvelo e a disciplina da igreja.

A Escritura deve nos levar além de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensino, não a expressão de opinião ou de idéias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos tem dado.

A obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. O Espírito não fala em formas que independem da Escritura. À parte da Escritura nunca teríamos conhecido a graça de Deus em Cristo. A Palavra bíblica, e não a experiência espiritual, é o teste da verdade.

Tese 1: Sola Scriptura

Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.

Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.


SOLO CHRISTUS: A Erosão da Fé Centrada em Cristo

À medida que a fé evangélica se secularizou, seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é uma perda de valores absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata. Cristo e sua cruz se deslocaram do centro de nossa visão.

Tese 2: Solus Christus

Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.

Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.

SOLA GRATIA: A Erosão do Evangelho

A Confiança desmerecida na capacidade humana é um produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.

A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora.

Tese 3: Sola Gratia

Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.

Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.


SOLA FIDE: A Erosão do Artigo Primordial

A justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé, somente por causa de Cristo. Este é o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai. É um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, ou por vezes até negado por líderes, estudiosos e pastores que professam ser evangélicos. Embora a natureza humana decaída sempre tenha recuado de professar sua necessidade da justiça imputada de Cristo, a modernidade alimenta as chamas desse descontentamento com o Evangelho bíblico. Já permitimos que esse descontentamento dite a natureza de nosso ministério e o conteúdo de nossa pregação.

Muitas pessoas ligadas ao movimento do crescimento da igreja acreditam que um entendimento sociológico daqueles que vêm assistir aos cultos é tão importante para o êxito do evangelho como o é a verdade bíblica proclamada. Como resultado, as convicções teológicas freqüentemente desaparecem, divorciadas do trabalho do ministério. A orientação publicitária de marketing em muitas igrejas leva isso mais adiante, apegando a distinção entre a Palavra bíblica e o mundo, roubando da cruz de Cristo a sua ofensa e reduzindo a fé cristã aos princípios e métodos que oferecem sucesso às empresas seculares.

Embora possam crer na teologia da cruz, esses movimentos a verdade estão esvaziando-a de seu conteúdo. Não existe evangelho a não ser o da substituição de Cristo em nosso lugar, pela qual Deus lhe imputou o nosso pecado e nos imputou a sua justiça. Por ele Ter levado sobre si a punição de nossa culpa, nós agora andamos na sua graça como aqueles que são para sempre perdoados, aceitos e adotados como filhos de Deus. Não há base para nossa aceitação diante de Deus a não ser na obra salvífica de Cristo; a base não é nosso patriotismo, devoção à igreja, ou probidade moral. O evangelho declara o que Deus fez por nós em Cristo. Não é sobre o que nós podemos fazer para alcançar Deus.

Tese 4: Sola Fide

Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.

Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.

SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus

Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão. Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido. Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nós.

Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.

Tese 5: Soli Deo Gloria

Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.



Fonte: Declaração de Cambridge


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Uma Herança Piedosa


Dou graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa, como o serviram os meus antepassados, ao lembrar-me constantemente de você, noite e dia, em minhas orações. Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha alegria seja completa. Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Lóide e em sua mãe, Eunice, e estou convencido de que também habita em você. (2 Timóteo 1.3-5)

Tradições humanas inventadas para neutralizar a palavra de Deus são ímpias e destrutivas, mas uma herança piedosa é algo belo. Ambos enfatizam a continuidade de crenças e práticas de geração para geração, mas enquanto as tradições humanas representam uma continuidade de rebelião contra o governo de Deus, uma herença piedosa representa fidelidade e uma dependência consciente da graça de Deus. Somente uma herança cristã é uma herança piedosa, e é a única cuja continuidade merece ser celebrada. Todas as outras tradições apresentam caminhos alternativos para o viver que afastam as pessoas da verdade e da vida eterna.
Paulo diz que ele serve a Deus com uma consciência limpa, como o fizeram os seus antepassados. Certo escritor comenta que, por essa declaração, o apóstolo reconhece que o cristianismo é uma continuação do judaísmo. Mas isso pode ser enganoso. Se por judaísmo nos referimos à religião do Antigo Testamento, de forma que os antepassados de Paulo referem-se àqueles que acreditaram e pregaram o seu Salvador prometido, então o cristianismo é de fato um cumprimento e continuação dessa religião. Mas o judaísmo não é a religião do Antigo Testamento. No tempo de Cristo, os judeus tinham rejeitado e pervertido tanto a palavra de Deus que assassinaram o cumprimento pessoal do Antigo Testamento. O próprio ministério de Cristo não foi uma continuação do ministério dos judeus ou fariseus, mas um rígido contraste a ele, com João o Batista, que condenava os judeus e fariseus, como o predecessor. Paulo teve que se converter da religião que estava servindo e voltar à fé do Antigo Testamento para retornar à vereda doutrinária coerente com a fé de Jesus Cristo. Seus antepassados não são os judeus e fariseus, mas aqueles profetas e anciãos que eles assassinaram.
Voltando à herança de Timóteo, Paulo menciona a fé de sua avó e mãe. Essa mesma fé agora habita em Timóteo. Visto que a fé de Timóteo é a fé de um cristão, quando Paulo se refere à fé de sua avó e mãe, é provável que ele tenha em mente a fé cristã também. Se Paulo tinha em mente a fé judaica, então uma delas ou ambas devem ter morrido antes de ouvir sobre a fé cristã, ou elas devem ter agora se convertido à fé cristã. Isso porque Jesus disse que se alguém crê em Moisés, então ele acreditará em Jesus, visto que Moisés falou sobre Jesus. Assim, ninguém que verdadeiramente creia no Antigo Testamento recusará crer em seu cumprimento, isto é, a mensagem de Jesus Cristo. E visto que a fé do Antigo Testamento é nada mais que uma fé prospectiva em Cristo, é muito apropriado chamá-la uma fé cristã também. Em outras palavras, quer no Antigo ou Novo Testamento, jamais houve qualquer fé verdadeira que não a fé cristã.
Timóteo é a terceira geração de crentes. Paulo usa esse fato para encorajar firmeza em seu pupilo. É necessário romper uma história de rebelião humana e tradições religiosos falsas, mas é algo louvável continuar uma herança piedosa. Algumas vezes não há em comum entre nossa herança espiritual e natural, e não existe nenhum bem espiritual em nossa linhagem natural. Talvez nossos pais e avós sejam pessoas ímpias e creiam em algumas coisas muito tolas. E quando Deus nos salva, ele não nos salva para continuar uma herança piedosa, visto que não existe nenhuma, mas para nos afastar de uma herança ímpia. Ele nos resgata das abominações de gerações anteriores, e nos mostra que não estamos presos às suas crenças e práticas.
Alguns dos nossos pais são ateus. Eles imaginam um mundo fantasioso onde não existe nenhum Deus para lhes dizer o que fazer e condená-los por seus muitos pecados. Ateísmo é um estado de ilusão severa, uma desordem mental causada pelo pecado. Ou, talvez nossos pais sejam aderentes de religiões não cristãs. Essas são alternativas ensinadas por demônios e aceitas pelas pessoas para evitar enfrentar a verdade sobre Cristo o Salvador e Juiz. Essa é também uma má função intelectual. Quer sejam da variedade religiosa ou ateísta, os não cristãos são estúpidos e insanos. Visite uma instituição mental e observe os maníacos. Alguns murmuram absurdos para si mesmos. Alguns gritam palavrões incoerentes. Outros espumam pela boca. Outros riem de nada. E ainda outros são violentos. Todos os não cristãos são interiormente assim durante todo o tempo. Mas Deus teve piedade de nós enquanto estávamos presos em nossas loucas ilusões, e nos resgatou do caos interior. Agora nossas mentes são claras. Agora encaramos a realidade e cremos na verdade. Ele nos salvou dos nossos ancestrais insanos, e de uma história de idolatria, incredulidade, assassinato, adultério, divórcio, materialismo, e coisas semelhantes.
Essa é a graça e o poder de Deus, que em Cristo podemos ter uma nova e gloriosa herança. Se nossa linhagem natural não tem nada em comum e não partilha disso, então não importa – Abraão é o nosso pai mediante a fé em Cristo, e nossos predecessores são os profetas e os apóstolos, e todos aqueles que fielmente serviram a Deus ao longo dos séculos. Essas pessoas não eram da nossa raça segundo a linhagem natural, mas se nos focarmos tanto em questões como raça, como muitas pessoas o fazem, então ficaremos sob a repreensão de Cristo: “Você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens” (Mateus 16.23). Mesmo quando Paulo expressou sua preocupação pelos judeus, seu único foco era a salvação espiritual deles. Ele nunca expressou qualquer interesse na restauração da força econômica e política dos judeus. É quase como você desejaria que sua família natural fosse salva por Cristo. Preocupar-se com os seus compatriotas seria uma preocupação mais ampla do mesmo tipo, mas permanece uma preocupação primariamente espiritual, e não racial.

Fonte: Reflections on Second Timothy (monergismo.com)
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto